Page 88 - ARTE!Brasileiros #37
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COLECIONISMO PATRICIA PHELPS DE CISNEROS






             MOMA RECEBE 140 OBRAS


             LATINO-AMERICANAS



             DA COLEÇÃO CISNEROS




             COLECIONADORA VENEZUELANA DOOU AINDA FUNDOS PARA A CRIAÇÃO
             DE UM INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO PARA A ARTE LATINO-AMERICANA



             POR FABIO CYPRIANO








             DIA 17 DE OUTUBRO foi um dia marcante para a arte   “Mas mais importante que a doação de 102 trabalhos é
             latino-americana no Museu de Arte Moderna de Nova   a criação do Instituto de Investigação para Arte Latino -
             York, o MoMA, nas palavras de seu diretor: “Não há   -Americana que pode ajudar em pesquisas o que o
             precedente histórico aqui que se compare à doação de   museu já faz”, anunciou também Cisneros. Pelas regras
             102 obras realizada por Patricia Phelps de Cisneros”,   do museu, não são informados os valores cedidos para
             afirmou Glenn Lowry para um auditório lotado.      este fim, mas, segundo Gabriel Pérez-Barreiro, diretor
             Das cerca de 150 mil obras do museu, a América    da Fundação Cisneros, “trata-se de um endowment que
             Latina está representada em seis mil trabalhos, que   vai garantir seu funcionamento de forma permanente”.
             se diversificam, contudo, entre seus vários departa -  As 140 obras doadas foram negociadas entre curadores
             mentos, como Filmes e Vídeo, Performance, Pintura,   da coleção Cisneros e curadores do MoMA, entre eles
             Fotografia, etc. “A segunda exposição do MoMA foi   Luis Pérez-Oramas, que também já trabalhou na Coleção
             dedicada ao pintor mexicano Diego Rivera, e nossa   Cisneros, além de ter organizado a Bienal de São Paulo,
             intenção sempre foi olhar para a América Latina com   em 2012, com o tema Iminência das Poéticas.
             muita atenção”, explicou ainda Lowry, em Nova York.   Para a doação, foi feito um recorte específico, que
             Junto às 102 novas obras doadas, somam-se outras 38   segue à risca o gosto da própria colecionadora: o
             que já haviam sido cedidas ao longo dos últimos meses,   abstracionismo geométrico latino dos anos 1930 a
             e não só trabalhos de arte propriamente ditos, como é o   1960 de quatro países, Uruguai, Argentina, Brasil
             caso da Revista de Antropofagia, de Oswald de Andrade   e Venezuela, sua terra natal. Da Venezuela, aliás,
             (1890-1954), em que consta o Manifesto Antropofágico.  vêm os artistas com maior representação na doação:
             “Essa doação não é sobre o museu, não é sobre mim,   Alejandro Otero (1921-1990), com 23 obras, e Gego
             mas sobre os artistas da América Latina que merecem   (1912-1994), com 16 obras. Em seguida, com 13 obras,
             estar no museu mais importante da América”, senten-  vem o brasileiro Hércules Barsotti (1914-2010). Com
             ciou Cisneros, ao falar em seguida ao diretor do MoMA.  conjuntos significativos também aparecem Lygia Clark
             Desde os anos 1980, segundo a colecionadora, enquanto   (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980), cada um com
             seu marido fazia negócios na região, ela visitava ateliês de   nove trabalhos. Nomes menos óbvios também apare -
             artistas na América Latina. “No Brasil, Paulo Herkenhoff   cem, como o baiano Rubem Valentim (1922-1991), que
             me ajudou muito e abriu muitas portas, pena ele não   pela primeira vez ingressa na coleção do MoMA, com
             poder ter vindo aqui”, lamentou a colecionadora no MoMA.  dois trabalhos dos anos 1960.


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