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HISTÓRIA DAS EXPOSIÇÕES 2ª BIENAL DE HAVANA



































            VISITANTES PASSEIAM EM VOLTA DE UMA DAS GRANDES INSTALAÇÕES APRESENTADAS NO EVENTO CUBANO




             aspecto ideológico não estava em seu programa.   a mesa de debate como também o fez na pista
             Estava, contudo, a ideia de evento descentrali-  de dança: “Ela foi acompanhada de seu marido,
             zado, composto por concertos de música (como   um escritor israelense, e uma noite eu e minha
             o inaugural, com a atuação de Chico Buarque,   esposa os levamos para ver o show de Tropicana e
             Mercedes Sosa e Pablo Milanés), exposições para-  dançar”. Os teóricos são sérios, sim, mas também
             lelas, encontros, conferências e workshops que se   sabem dançar. Ainda mais se estiverem em Cuba.
             davam em diversas localidades de Havana. Dessa  E não foi a única presença norte-americana em
             parte teórica comandada por Mosquera foram   Havana. Outro dos êxitos desta Bienal foi a mostra
             extraídos conceitos tão interessantes como o de   Por Cima do Bloqueio, organizada por artistas dos
             “cimarronagem”, que o próprio curador esclarece   Estados Unidos que levaram, pela primeira vez,
             como sendo derivados das pesquisas de René   sua arte a Cuba.
             Depestre. “Os cimarrons eram escravos africanos   Fazendo uma retrospectiva, um dos poucos “pon-
             que fugiam para viver na montanha. Eles foram   tos negros” deste evento foi manter a outorga de
             muito importantes no Brasil, Jamaica e, principal-  prêmios a artistas, que neste caso foram para Lani
             mente, no Suriname, onde conseguiram conservar   Maestro (Filipinas), Antonio Ole (Angola), Marta
             até hoje as sociedades que organizaram na selva.   Palau (México), Carlos Capelán (Uruguai) e José
             Acredito que foi Depestre quem acunhou o termo  Bedia (Cuba). Algo que para Nelson Herrera Isla,
             de cimarronagem cultural, para se referir a ações   encarregado da montagem das exposições, foi
             de rebeldia cultural diante do poder dominante”.   corrigido a partir da terceira edição da Bienal:
             Para os encontros culturais foram convidados   “O importante era deslocado para o terreno da
             intelectuais estrangeiros tais como Dore Ashton,   confrontação sadia, do diálogo, do caminho a per-
             que não somente trouxe seu conhecimento para   correr juntos e não para a obtenção de galardões”. 3

             1 “La institución inestable”, em What Makes a Great Exhibition? Paula Marincola ed. Philadelphia exhibitions initiative, 2011.   FOTO ARQUIVO LLILIAN LLANES

             2  Texto de apresentação da Bienal incluído no catálogo do evento.
             3  Revista Atlántica, “Arte, Sociedad, y Bienal de la Habana”, Herrera, Nelson. Centro Atlántico de Arte Moderno, 2007.



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