Page 84 - ARTE!Brasileiros #37
P. 84
HISTÓRIA DAS EXPOSIÇÕES 2ª BIENAL DE HAVANA
BIENAL PARA O TERCEIRO MUNDO
ARTE!Brasileiros ESTREIA SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE EVENTOS HISTÓRICOS NA AMÉRICA LATINA
COM DESTAQUE PARA A MOSTRA CUBANA QUE MUDOU PARADIGMAS DA ARTE CONTEMPORÂNEA
POR JUAN JOSÉ SANTOS
“DURANTE 1984, enquanto devolvia as obras organizadora, junto com o então ministro da Cul-
da primeira Bienal, dediquei-me a estudar o fenô- tura, Armando Hart, da segunda edição da Bienal
meno das bienais no mundo. E li tudo o que havia de Havana. A segunda reflexão é de Gerardo Mos -
aparecido nas revistas internacionais de arte quera, que se encarregou dos eventos teóricos de
sobre o tema. Dessa pesquisa tirei duas conclu- tal experiência. Talvez seja esta segunda afirma-
sões: uma, de que havia que dar a esse evento, ção, que identifica a Bienal de 1986 como pioneira
que tinha sido denominado bienal, uma estrutura em abranger artistas de países até então não
diferente daquelas que já existiam no mundo, considerados pertencentes ao circuito artístico
como as de Veneza e de São Paulo, advindos internacional, aquela que justifique sua inclusão
paradigmas, mas que tinham estratégias que não nesta série da ARTE!Brasileiros como a mostra inau-
se moldavam ao que considerei que devia ser o gural de uma seleção de exposições históricas.
objetivo daquela, ocorrida em Havana. E a outra A segunda edição da Bienal de Havana foi efetiva -
conclusão foi a de que nem esses eventos nem mente inclusiva com nações não somente da Amé-
as revistas de circulação internacional se encar- rica Latina e do Caribe, mas também da África e
regavam do que ocorria com a arte na África, no da Ásia, como Angola, Argélia, Burkina Faso, Egito,
Oriente Médio e na Ásia, assim como também Gana, Irã, Iraque, Sudão ou Zaire: “No começo
não se interessavam pelos artistas latino-ame- houve crítica na América Latina em relação a abrir
ricanos que residiam em seus países. Daquelas o evento a essas outras regiões, argumentos de
regiões só se falava da arte tribal e tradicional que nelas ‘não havia arte contemporânea’. Diante
e, relacionado à América Latina, dos artistas daquele vão preconceito, só pensei em dizer aos
consagrados, em geral os que tinham feito sua que assim pensavam que eles mantinham em
carreira em Paris. Considerei então que meu relação à África e à Ásia a mesma atitude que os
nicho estava na criação de um espaço capaz de europeus tinham em relação a nós”, disse Llanes
dar visibilidade aos artistas dessas regiões, aos em entrevista. Foram expostas durante um mês
quais ninguém dava importância, e para isso tinha mais de 2.400 obras de 690 artistas provenien-
que inventar uma estrutura expositiva de acordo tes de 57 países (entre outros, Luis Camnitzer,
com esse propósito.” “Foi um gigantesco Salon Juan Downey, Paz Errázuriz, Juan Francisco Elso,
des Refusés do mundo, que fomentou o futuro Helen Escobedo, Graciela Iturbide, Cildo Meireles,
nascimento do que Rafal Niemojewski (diretor Manuel Mendive Hoyos, Liliana Porter e Cecilia
da Biennial Foundation) chamou de uma “nova Vicuña). Foram outorgados dez prêmios. Foi o
raça de bienais”, que enfrentava o paradigma primeiro grande evento artístico que falou sobre
centralizador de Veneza. Ou seja, iniciou a era os efeitos da globalização, três anos antes da
das bienais internacionais por todo o mundo.” mostra Magiciens de la Terre (França), oito anos
A primeira declaração é de Llilian Llanes, antes de Cocido y Crudo (Espanha) e mais de
84
Book_37.indb 84 11/21/16 8:28 PM