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Desde jovem Marta Minujín
protagonizou quase
tudo o que quis. Uma de
suas frustações foi não
conseguir entrar para o
famoso Grupo de Los Trece,
de Buenos Aires, liderado
por Jorge Glusberg e
composto só por homens
maneira dela, na convocação do corpo, na insurgência no caso, uma argentina devedora e um estadunidense
na dança, na brincadeira, no jogo. Ana Maria lembra credor. Enquanto Minujín forjava um pagamento baseado
que a artista tem séries importantes que falam do fato em sacas de cereal, os índices de inflação na Argentina
de ela ser latino-americana, de se colocar na cena chegavam a picos altíssimos.
internacional como mulher latino-americana. Um dos Outro caminho que Minujín adotou para intervir no
trabalhos mais icônicos, e eminentemente político, imaginário geopolítico regional foi atuando no espaço
é o que reflete sobre o rombo que a ditadura militar público, conforme se vê nos trabalhos que ocupam
argentina deixou nos cofres do governo. A curadora uma das salas da exposição. Depois de El obelisco
lembra que durante o período de redemocratização, acostado (O obelisco tombado), de 1978, que criou a
a inflação tornou-se incontornável, o endividamento viagem imaginária do monumento desde a Praça da
com potências internacionais foram às alturas. Então, República, em Buenos Aires, até o interior do pavilhão
em 1985, Minujín comentou esse episódio na fotoper- da Fundação Bienal de São Paulo, Minujín começou a
formance argentina con maíz, “el oro latinoamericano” criar uma série de projetos superdimensionados para
(O pagamento da dívida externa argentina com milho, serem instalados em ruas de diferentes cidades e paí-
“o ouro latino-americano”), na qual ela e Andy Warhol ses. Hoje a artista soma vários deles e não para de ser
personificaram estereótipos de seus países de origem: convidada para criar muito mais ainda.
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