Page 88 - ARTE!Brasileiros #38
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COLECIONISMO MERCADO EDITORIAL INDEPENDENTE
formato e de capa dura, por exemplo. “Percebo que tem a edição em que a companhia Teatro de Arena
existe um predomínio da imagem e não do texto”, diz. documenta o processo de criação da peça Arena Conta
“Acho que agora o design e o projeto gráfico são fatores Tiradentes. Tem também o livro Atlas e Kataloki, duas
que têm mais importância.” Ayerbe refuta a possibili- produções independentes de Arnaldo Antunes, híbrido
dade de fetichização de seus itens tal qual acontece gráfico-literário de autoria coletiva. Para Pereira, o
com obras de arte. “Essa produção vai na contramão mercado editorial de produtos independentes estava
do que as galerias querem; a ideia não é de que aquele adormecido desde os anos 1980. Ele aponta que cole-
seja um objeto único, mas sim algo que muita gente ções como a sua são capazes de sintetizar ideias em
pode ter ou comprar”, analisa. torno de movimentos ideológicos, como aconteceu com
Só que, inevitavelmente, a baixa tiragem e as edições a produção punk.
limitadas acabam agregando valor a acervos mais anti- Há uma coleção específica que se tornou notável porque
gos, ainda que esse valor nem sempre seja econômico seu criador, o artista Fábio Morais, há sete anos, começou
mas sim documental. O professor de Literatura Iuri a digitalizar os itens que adquire há mais de 20 anos,
Pereira tem em casa os originais de uma edição do para exibi-los no blog Bacanas Books (bacanasbooks.
Jornal Dobrabil, um folheto satírico em formato A3, blogspot.com.br/) e também compor textos analíticos
assinado por Glauco Mattoso nos anos 1970 e que ele (saborosos e com impressões bem subjetivas) sobre os
mandava pelo correio para artistas da Tropicália e do trabalhos. Vale a pena visitar o site, que Morais classifica
Concretismo. Pereira adquiriu as folhas soltas (algumas como “diário de um artista” e passar algumas horas
delas publicadas pela editora Iluminuras por R$ 43) pelo consultando o acervo, com publicações assinadas por
valor de R$ 500. Lucia Mindlin Loeb, Emily Dickinson e Roni Horn.
Sua coleção é vasta e mistura artigos históricos (dos anos Morais relaciona a prática a outro momento da nossa
1970 em diante) a produtos comprados nas atuais feiras história recente, anterior ainda à febre punk, que foi o
d e z i n e s e i n d e p e n d e nt e s . R at o d e s e b o s , o p r o f e s s o r fortalecimento da arte conceitual nos anos 1960 e, nesse
de zines e independentes. Rato de sebos, o professor
contexto, o surgimento, como
maneira de “atuar fora do mer-
cado”, da chamada arte-postal
(com itens enviados pelo correio).
Coincidência ou não, o recifense
Paulo Bruscky, um dos maiores
expoentes do gênero, estará na
próxima Bienal de Veneza. Ele
também criou com o uso de
máquinas de Xerox.
Ao escrever sobre a Revista Obs-
táculo n° 1, editada por Pedro
Zylbersztajn e comprada na feira
carioca Pão de Forma, Morais faz
uma análise interessante sobre o
ambiente das feiras, destacando
a oferta e o clima de vale tudo.
“Feira é isso, uma quantidade LEGENDA 1 LINHA DE ?? CARACTERES OSPSODPSO DPSO DPSOPDO
absurda e caótica de informa- SPODPSO DPSODP SO DPSO DPSO DPOSP DOSPO
ção que cabe a cada um burilar.
LIVIA PRESTES Para quem diz que ‘acha as feiras
MOSTRA SUA COLEÇÃO muito confusas, muito babélicas’,
DE GRAPHIC NOVELS;
ATRIZ DIZ QUE TEM LIVRO ando com a resposta na ponta da FOTOS: LUIZA SIGULEM
DE “ENTRADA E SAÍDA” língua, suruba: se não aguenta
PARA EMPRÉSTIMOS pra que veio?”
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Book_ARTE_38_POR.indb 88 3/3/17 9:51 PM