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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
Com curadoria de Ayrson Heráclito, exposição na
Galeria Estação estabelece paralelos entre artistas
populares segregados pelo sistema da arte e nomes
consagrados, com quem guardam aproximações,
em bienais diversas, ao longo de sete décadas
por eduardo simões
‘REVERSOS
E TRANSVERSOS’ BUSCA
DISSOLVER DICOTOMIA
ENTRE ARTE
POPULAR E ERUDITA
o que tornam as esculturas do baiano Agnaldo mesma sorte. Será que foi uma questão de gênero?”,
dos Santos (1926-1962) mais prestigiadas pelo sistema questiona Heráclito, em entrevista à arte!brasileiros.
da arte do que as carrancas de seu conterrâneo – e “Ambos, como artistas, foram próximos, mas hoje
confessada referência em sua formação artística – existe uma grande distância de legitimação. Então,
Mestre Guarany (1884-1985)? Ou ainda a produção fazemos nesta mostra uma ponte entre os artistas para
da pintora pernambucana Lúcia Suanê (1922-2020) salientar o abismo que há entre essas produções no
abismalmente menos valorizada do que as obras de reconhecimento pelo sistema da arte brasileira. Volpi
Alfredo Volpi (1896-1988), com quem guarda apro- não é esteticamente superior a Lúcia; ambos são muito
ximações poéticas e de linguagem? importantes em suas construções e complexidades.
Na exposição Reversos e Tranversos: artistas fora Mas não são vistos nesta horizontalidade”.
do eixo (e amigos) nas bienais, em cartaz na Galeria Reversos e Transversos começou a ser concebida
Estação, o artista e curador Ayrson Heráclito inves- no ano passado, depois que Vilma Eid, galerista à
tiga como questões de raça ou gênero, entre outras, frente da Estação, viu a exposição Yorùbáiano, em
provavelmente estão na base da paulatina segregação que Heráclito reuniu na Pinacoteca de São Paulo
ocorrida entre os artistas ditos populares e aqueles quase 40 anos de sua minha produção artística. Eid
tidos como eruditos, num processo consolidado ao já conhecia também seu trabalho como curador, na
longo de sete décadas pelas bienais. mostra Histórias afro-atlânticas, apresentada em
“O Volpi, este artista imigrante italiano, que havia 2018 pelo Masp. Heráclito, por sua vez, considera-
sido pintor de paredes, foi eleito por um grupo como um -se um “grande visitante” da Estação, “galeria que
grande mestre, de grande inteligência formal, o que o tem um acervo muito diverso, sobretudo de artistas
retirou de um limbo de artista primitivo, sem elaboração. afro-brasileiros e, mais recentemente, cada vez mais
Quase contemporânea do Volpi, a Lúcia não teve essa artistas indígenas”.
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