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VILMA EID, UMA MECENAS DA ARTE POPULAR BRASILEIRA
por eduardo simões
sempre que se aproximava o aniversário de Vilma achavam que era algo instituconal, museológico”, conta
Eid, sua mãe costumava presentear a filha com uma obra a galerista. “Foi preciso fazer muita pressão, inclusive de
de arte, fosse um quadro ou uma escultura. Aos 21 anos, amigos como o Marcelo Araújo e o Ivo Mesquita, para
já casada, sua mãe a levou para a Cosme Velho Galeria que houvesse uma aceitação por parte do mercado”.
de Arte, do marchand Cesar Luiz Pires de Mello. Vilma Ao longos dessas décadas, Vilma reconhece que
recorda-se que havia paredes inteiras cheias de quadros, fez um “trabalho de formiga” pelo reconhecimento da
com uma iluminação escura. Isso não impediu que ela arte dita popular. “Foi água em pedra dura tanto bate
fixasse seu olhar em uma das pinturas que, ela reconhece, até que fura. Houve muita rejeição, porque havia uma
marcou um ponto de ruptura na sua relação com artes. confusão do que era arte e o que era artesanato”, con-
“Eu vi uma relva com dois boizinhos. Meu olho ficou ta. Seu trabalho, no entanto, surtiu efeito ao longo dos
grudado naquilo. Eu não sabia que era de José Antônio anos, não somente junto a colecionadores, mas também
da Silva [1909-1996]”, conta Vilma. “Mas eu quis aquele instituições, a exemplo do Masp.
trabalho, e tanto a minha mãe quanto o galerista me “Foi uma epifania, que também se vê hoje na progra-
desaconselharam, falando que o artista era um primiti- mação da Pinacoteca. E fora do Brasil houve ponto de
vista, que a gente não sabe se vai dar em alguma coisa. virada, em 2012, quando a Fundação Cartier, de Paris,
‘Escolha uma coisa mais moderna’, disseram. E eu acabei faz uma exposição com artistas chamados populares. O
escolhendo outra obra”. Hervé Chander, diretor da instituição, não somente leva
A pintura com relva e os bois, no entanto, não saiu da dez artistas da Estação para a mostra, como adquire
lembrança de Vilma. Nos anos 1980, ela soube que José obras para o acervo da Fundação”.
Antônio da Silva morava em São Paulo, na Vila Mariana, Motivos para se celebrar a trajetória de Vilma Eid e
e quis conhecê-lo. “Ele foi muito prestigiado em vida, as efemérides deste e do ano que vem, como se vê, não
participou de 17 bienais pelo mundo, seis delas a Bienal faltam. A arte popular brasileira agradece.
de São Paulo”, conta a galerista. “Sempre digo que foi
ele quem me colocou nesta vida. Quando as pessoas me
falam que escolhi esse nicho, eu digo que não escolhi A marchand Vilma Eid, em sua Galeria Estação, que
em 2024 comemora duas décadas de atividades
nicho nenhum. Foi um despertar”.
À época, Vilma Eid era sócia de uma galeria aberta
em 1986, mas ela já atuava no mercado de arte como
uma marchand independente, uma trajetória que em
2023 comemora 40 anos. Ao passo que sua Galeria
Estação foi aberta em 2004, depois que ela reuniu
uma coleção consistente, comprando muitas obras
em viagens Brasil afora. Em 2024, a galeria completa
duas décadas de atividades.
“Naquele momento, no entanto, eu não pensava em
abrir outra galeria, porque o confisco das poupanças no
Governo Collor, que havia afetado os negócios da galeria
anterior, de que eu fora sócia, me deixou traumatizada”,
diz. “Minha ideia inicial era deixar meu acervo exposto ao
público, apenas. Com o passar dos tempos, vi que não iria
dar certo, porque as pessoas queriam comprar, mas eu
dizia que não vendia. E havia muitos artistas vivos ainda,
que dependiam de mim. Então resolvi abrir a galeria”.
À época da inauguração, Vilma conta que a recep-
ção de sua galeria, no mercado de arte brasileiro, não
foi boa. As pessoas que vinham aqui me perguntavam
ser um espaço expositivo do estado ou da prefeitura,
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